quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Um sopro de vida

Fazer de mim margem do mundo.
Afinal, o que mais fazer de mim, se não doar-me ao que é vivo? Visualizar a vida como uma grande explosão plena, variada e contínua, e visualizar o mundo como as vezes achamos ser a vida, pequena e temporária. E o eu, só como mais uma poeira que aos poucos é levada pelo o vento, que se acumula, se espalha e multiplica.

Júlia Rena

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"À flor da pele"

Transformar meus sentimentos em versos, estrofes e palavras não me da gosto.
Esse pequeno desabrochar de alívio não me conforta, tão ilusório que me faz lembrar o cheiro forte de álcool que queima a garganta.
Ter brilho maior aos olhos, é o meu maior querer, não essa palidez que entristece, esse tom heterogênio, de castanho com cinza. que vira essa cor, cor de bosta.
Não estou com raiva, é que hoje os sentimentos transbordam-me o corpo, por isso a vontade tola de escrever; faço das palavras a minha dose de cachaça.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Nem aí

Tenha amor o suficiente para distribuir tais petálas. Livre-se do seu bom humor se ele não é verdadeiro. Do bom gosto se isso da desgosto. Se desfaça do seu lado crítico, se ele te acorrenta a uma opinião quadrada. Livre-se da lógica se não dá brilho aos olhos, se não deixa cor na boca, se não enfeita o mundo, e seja a incógnita que dança na poça, que canta na chuva, que beija o absurdo. Mande um alô pro outro alguém, e tchau e bênção pra quem não tem.


Júlia Rena


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"Brincando de ser e estar"

Brincando de desenhar com as cores um pássaro pintou,
Estrada de manteiga escorregou,
untando a forma, fazendo farinha,
No céu gergelim de gotas estreladas e um sorriso meia lua, imeia.
Um esvoaçante pé dançante, que não parava de mover, para lá, e para cá.
Um coração pulsante que bem dizendo, queria amar.
Mãos para o alto, prateleiras ao alcance.
Porém, minha vida ali de baixo não queria ser morna, abandonada em prateleiras.

Brincando de desenhar, um pássaro a voar se pintou,
Estradas de caminhos se formou,
esquentando a farinha, mastigando o pão,
No céu gotas de água salgada e nuvens carregadas com um arco íris no papel.
Um pé pisante, dançante, sapateado ou balé.
Um coração pulsante que bem dizendo, era tudo e nada.
Mão para o alto, prateleiras ao alcance.
Olhos sorridentes, uma curva formava com a cova relativamente estreita de meus olhos juntamente ao mundo que gira, que gira, girou.

Júlia Rena

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Parto-me



Cresce um mundo na medida em que meus olhos anseiam ver.
Nasce um ser na medida em que vem esse querer.
Parto;
Para longe, deixando ou levando um pouco de mim.

O parto ocorre.

Open your eyes - Escuto vozes.


Tenho medo,
é tudo estranho
tenho lágrimas nos olhos,
e gritos de recem chegada na garganta,
desconfio,

mas logo me asseguro nos braços da maternidade que me acaricia e me acolhe com amor, disponibilizando leite como fonte de alimento e colo como longa moradia. E essa segurança me traz tal confiança que me faz querer ir. Com seus sábios ensinamentos, ensina-me a viver. Fortalecendo e desafiando minhas pernas para que eu possa enfim andar e meus braços para que um dia eu possa trabalhar e construir os meus propios abrigos. E o desejo aumenta no ritmo do meu coração, na medida em que ele pulsa me trazendo vida. E assim serei, filhote do mundo, em constante aprendizagem, ate que um dia tudo acabe dentro de nos.

 

Open your eyes! Can you see? - O mundo sopra em meus ouvidos.

Júlia Rena

Disfarces (?)

Não sei, mas o tempo me parece inquieto e este hálito ruim refresca-me a mente,
e o que e palpável quase não me aquece mais.
Brilho os dentes, e rasgo os lábios, o tempo é seco.
Brilho os olhos, que umidece a face,  que expõe os traços.
Paladar, tato, visão e olfato, sentidos disfarçados.
Coração pulssante, sinto minha veia.




Júlia Rena

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Engarrafados

O relógio contava as horas. E eu, Bianca, contava as pessoas na rua. Engraçado, mas parecia-me de dentro daquele carro que o mundo lá fora se entupia cada vez mais de gente, e não se esgotava. Haveria tanto espaço assim? Tá, tudo bem, sei que existe a morte, mas meus olhos se enchiam de vida a cada ser que encontrava na rua. Porém, é claro que os meus olhos que se enchiam de vida eram apenas aqueles que todos conseguem ver, o estético, que tem 0,20 de artigmatismo e que se parecem com os do meu avô. Mas eu encarei alguns nos olhos e fiquei até zonza por tantas coisas expressas. E isso não me parecia vida. Estranho - pensei. Eu realmente achei à alguns segundos que o mundo estivesse se esgotando por demasiado, como pode àquilo não me mostrar vida? Se era daquilo que o mundo se enchia?
O Sinal abrira, com sua luzinha verde de sempre, indicando aos motoristas que seguissem caminho, só que continuamos inerte. O tráfico é grande e acho que está engarrafado (Não no sentido literal). Continuei olhando para janela, gosto de observar. Uma sensação ruim a que eu tenho agora, parece estragada, com cheiro de manga podre e gosto de cerveja quente, sentia como se estivesse pulado de cabeça em uma caixa de isopor cheia de gelo. Dramático né? É porque a vida lá fora parecia-me muito sem cor, sem flor sem sabor. Seria em preto e branco? Ou de uma só dor? O ar era podre, como uma maça que apodrece com o tempo, com o vento. O mundo agora, me parecia demasiadamente grande, para tantas imperceptíveis pequenas vidas. Onde estariam? Não no meu bolso, garanto. Você sabe por acaso?
Os carros da frente se moveram igual tartarugas sonolentas ao contrário dos motoristas irritados que os dirigiam. Buzinas desesperadas e inúteis soaram piores do que o zum-zum-zum que os mosquitos fazem durante a noite. Mandei um sinal com as mãos, (muito sutil por sinal) para fora da janela, um dedo do meio carregado de impaciência.Bufei.
O ar que respirávamos certamente não fazia bem à ninguém, contaminava as minhas veias nasais. Era seco e opaco. Deixava-me alterada, essa poeira toda que entrava em mim.
O mundo me parecia cada vez maior e ao mesmo tempo sem espaço.
Os olhos vistos superficialmente aparentavam ter vida, mas ao ver mais fundo não conseguia enxerga-la. E isso não é por culpa do meu artigmatismo. Será de minha impaciência? Ou de minha insensatez? Que seja. Vida ali não havia. E isso era tão nítido quanto a minha pressa.
Estamos engarrafados; literalmente. Onde a garrafa é o mundo e seu conteúdo somos nós. Mas a grande questão e contradição é que a garrafa está vazia. Então como poderíamos estar nela? Se ela é apenas vazio?

O relógio ainda conta as horas. E eu continuo contando as pessoas.

(!?)



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Júlia Rena

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sensores

Tão fria quanto o gelo que derrete em minha boca e queima. Tão quente como o calor humano que repele a chuva. Tão desastrosa como o toalha que seca meu rosto e cai. Tão gélida que meus dedos nem mais sinto. Tanto fogo que estou em cinzas. Tão pequena que desapareço. Tão imponente que nem mais corro. Tão vulnerável que não atinjo. Tanta pulsação que pulo tremula. Tão inerte que vou voando. Tão presa ao chão que estou no céu. Tanto medo que não abro passagem. Tão consciente e inconsciente. Tão desesperada que só consigo rir. Tão grande que sou o mundo. Tão humana, que me rendo.

Júlia Rena

"O primeiro senso é a fuga.
Bom...
Na verdade é o medo.
Daí então a fuga.
Evoca-se na sombra uma inquietude
uma alteridade disfarçada...
Inquilina de todos os nossos riscos...
A juventude plena e sem planos... se esvai
O parto ocorre. Parto-me.
Aborto certas convicções.
Abordo demônios e manias
Flagelo-me
Exponho cicatrizes
E acordo os meus, com muito mais cuidado.
Muito mais atenção!
E a tensão que parecia nunca não passar,
O ser vil que passou pra servir...
Pra discernir...?
Harmonizar o tom.
Movimento, som
Toda terra que devo doar!
Todo voto que devo parir
Nunca dever ao devir
Nunca deixar de ouvir...
com outros olhos!
A poesia prevalece! - O Teatro Mágico"

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Espinhei o mel

Quebro esse computador com as mãos,
e faço de cada nuvem uma estadia,
de cada gota uma morada,
de cada pássaro um conhecido,
de cada abrigo um ninho,
e de cada rosa, viva ou morta sou uma parasita se espetando em espinhos,
mas de cada flor sou uma abelha deixando um pouco do seu mel, e roubando um pouco do seu polém.

Júlia Rena

terça-feira, 12 de abril de 2011

Partícula de gota?


Abri os olhos e vi pela pequena fresta quase que imperceptível da janela do meu quarto uma luz de sol, a tal claridade que incomodara meu sono fazendo minhas pálpebras tremerem até que se abrissem e enxergassem um novo dia.
Abri a janela e logo levei a mão direita em direção aos olhos quase que ofuscados por tanta luz na intenção de me esconder do sol, reflexos azuis do céu foi tudo o que vi, cambaleando fui ao banheiro lavar o rosto, a água passou por meus olhos refrescando minha visão e então pude ver, que hoje teria praia.
O sol queimava e ardia, a brisa batia uma vez ou outra dando aos meus cabelos um toque de areia salgada com rebeldia, meus pés se mexiam como se estivessem rindo das cocegas que a água fazia nas pontas dos dedos, uma sensação de arrepios se espalhava por meu corpo, tirei então meu leve vestido de praia e fui me lançar ao mar, sem pensar qual seria a temperetatura imediata, sem pensar no antes, ou no depois.
Apenas sabia que o oceano me acolheria com suas águas imensamente infinitas, e que eu poderia nunca mais voltar. Descobri que seria peixe, e que queria também ser mar. Seria uma gota talvez, ou simplesmente uma partícula dela. Fazer parte das ondas, e ir sem saber para onde.
Mergulhei e transformei-me em mar.

Júlia Rena

segunda-feira, 21 de março de 2011

Estações musicais

Enchi a caneca de café forte com pouco açucar, meio amargo por sinal, nunca acerto no ponto, mas era até agradavél, esquentei o pão velho do dia anterior na chapa passei o requeijão e acrecentei o presunto mesmo que quase vencido. Na terceira mordida começou a tocar uma música me faz ter recordações boas, ruins, não sei dizer. Recordações que deixaram saudades, que embrulham o estomago, aperta o peito e da até uma dorsinha de cabeça por forçar tanto a memória, ou melhor, por tanto deixar fluir.Informação atrás de informação. Uma saudade meio amarga como o café que ali eu tomava. Uma nostalgia fria cheia de lembranças embrulhadas em uma só caixinha com imagens em preto e branco, sem vida, sem cor, por não poder ser vivida novamente. O computador resolve interromper a música por sua falta de processamento, me irrito, mas é só socar o monitor que a música volta a tocar. A raiva da semana sempre se esvai nesses socos diários. Involuntariamente volto a lembrar. A música acaba, passa pra próxima. Agora tocava aquela que todos os dias faz parte do seu repertório, aquela com um rítimo gostoso que da vontade de dançar e voar, sentir a brisa passar. Sem ver, já estou dançando pelo o meu quarto rindo e fazendo palhaçadas quando a música muda novamente, toca um rock'n'roll dos bons, continuo dançando só que dessa vez imitanto os famosos rokeiros de frente para o espelho, fazendo caretas, junto daqueles movimentos disterrados com a cabeça para baixo e para cima, tocando todos os intrumentos imaginários possiveis que contém em uma banda de rock e construído um microfone com as mãos,  imaginado ser por exemplo Janis Joplin, o que é impossivel, mas me achava ser.O sol já estava quase indo embora e a chegada da lua se aproximava, hoje era lua minguante, e eu esperava ansiosa por ela. Selecionei outras músicas no Windows Midia Player e botei pra tocar sem pestanejar.
Dessa vez era Sigur Rós, deitei na minha cama, cançada de dançar, respirei e fui longe. Muito longe, andei por cada corda do violão, sem medo de cair, voei e pousei delicadamente em cada instrumento, sorri a cada novo tom, a cada ré sustenido, e si bemol dei um suspiro e a música acabou, estava quase que anestesiada de boas vibrações estava quase que ainda sem chão.
No céu havia apenas um aceno leve de despedida do sol, dava para ver da minha janela, um passáro passou e uma estrela brilhou, as folhas das arvores chaqualharam e dançaram sicronizadamente no leve silencio músical.
Mas a música recomeçara.Não queria ouvi-la, e por ter tal vontade, fiquei, e escutei até o fim, parecia que agradava-me a tristesa. A música era daquelas que nos lembra do que poderia ter sido e não foi. E que faz embrulhar o estomago, na ansia de vasculhar nossa mente e encontrar um motivo qualquer. Tenho desses momentos loucos, como qualquer um imagino. Com um longo suspito a música acaba e começara a tocar Novos Baianos, em seguida, Chico e Supercordas, até que minha mente adormeceu em pensamentos lúcidos e por inteiro. Estava dormindo.
Acordei com o dispertador, 5:35 da manhã, tocando Graveola. Era hora de ir pra escola.




Júlia Rena

segunda-feira, 14 de março de 2011

O bem da solidão

Por um longo tempo pensei que a solidão era "estar sosinho". Quarto fechado, sem coisas, sem pessoas, sem nada. Há uma solidão que mexe fundo, ainda que esteja cercado de bons amigos, família e namorado. É a sensação de que estamos todos "à deriva", sob o descontrole do acaso, sob as mutações inevitáveis das pessoas. É o sutil entendimento do óbvio: há necessidade urgente e constante do desapegar-se. E isso não é de todo ruim. É o exercício da própia individualidade: bem primordial para o bem-estar das relações inclusive. Depois, torna-se aos poucos uma boa companhia para si mesmo.

Júlia Rena

sábado, 12 de março de 2011

Inércia

Faz um tempo que não consigo escreve coisas bonitas. Ou coisas que não sejam intediantes e superficiais.
É porque não consigo escrever pela metade, não consigo forçar a vontade e nem voar com os pés no chão.
Pouso em meu corpo e lá fico, a inércia se aplica a mim. Não existe energia cinética nem energia potencial que me envolva, e nem movimento retilínio uniforme. Apenas eu e a minha vontade inexistente de se mover.
A solidão me envolve e então minha alma chora. Não por desalento de viver, mas por necessidade. Precisão de descarrego. Necessidade de sentir-se por inteira.  Necessidade apenas de deixar fluir, deixar viver. Crer na humanidade. Crer que as pessoas choram por medo, por inconstâncias, por desespero, por o que for, crer na felicidade, na harmonia e na aprendizagem.
Crer que apesar de tudo, somos humanos.
Fazer de conta que é normal, e que está tudo bem. Fazer de conta que o tempo fazerá tudo por mim.
Fazer de conta que "eu não choro por dentro".

Júlia Rena

"Fique de vez enquanto só, ou então será submergido." - Clarice Lispector

sexta-feira, 4 de março de 2011

Desnecessário compreensão

Na tentativa de escrever algo diferente, me encontro procurando por inspirações que não conspiram a meu favor.Talvez por procurar em lugares errados.. Ou será por pura inconstância? Por cegueira seria? Ou será que nem existem? e eu simplesmente recuso a realidade fechando meus olhos contra a claridade, procurando no escuro a verdade, ou a mentira?
 Nada disso talvez! Sinto que minhas ideias são irrelevantes. 
Queria apenas inspirações mais doces para minhas palavras.
Elas me traem, e nem assim sentem remorso, ou coisa qualquer.
Continuam a me dizer o que fazer, o que escrever, o que pensar.
Hoje eu queria viver sem elas.
E novamente as palavras me tapeariam, me fazendo escrever.
Farejo tudo dentro de mim, e encontro a vontade de dizer sobre isso.
Menos da metade do que sinto. Pra ser sincera, nada da metade do que sinto.
O que sinto é um campo de amplitude intangível, o que o torna indefinível.
A inspiração não é algo que requer muito esforço para entendê-la.
Basta fechar os olhos, respirar como lhe convêm, e deixar ouvir o silêncio.
É nesse silêncio que encontro a solidão de estar comigo mesma.
Falamos da solidão como algo ruim.
Mas agora, todas as vezes que reencontro com ela, sinto-a se instalar avontade como um velho conhecido.
E a inspiração? Não quero mais procura-la. Deixarei que fique livre.
Poderá me visitar quando quiser, acolherei como uma boa anfitriã.
Lembrando pessoa, que digo isso hoje, outrora dizia outras ideias, mas posso dizer o oposto amanhã.
Aliás, sou humana e tenho inconstâncias, como todos.
E são nesses momentos de inconstâncias que consigo ver o real sentido das coisas, são nesses momentos que vivo o que chamo de felicidade.

Nada que não seja mutável, eu diria.


Júlia Rena

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Livros

Não era simplesmente por amar lê-los. Sim, amava. Amava, todavia, mais forte e irresistivelmente as páginas, as letras enfileiradas, o cheiro do papel impresso, ou o aroma do papel envelhecido. Amava-os por possuir, a posse que a encantava. Era preciso que ela o possuísse. Preciso e necessário. Tê-los ao redor, encarando-a, empilhados como que aguardando pacientes pela escolha.


Júlia Rena

A toalha ainda está na cabeça

Acabei de tomar um banho. Cheirosinho e ao som de uma música insistente tocada no "repeat". Eu tenho dessas loucuras. Encano e não há tecla "next" que segure a minha obsessão por determinada músia. Ninguém em casa reclamou ainda desta mania. Não sei o que acontece.Cismo com a música, busco a letra, a essência, decoro, arrisco as cantaroladas. Fico apaixonada pelas rimas, pela sonoridade, concretizo. São espécies de músicas sazonais. Acompanham as estações da minha alma. E vai secar os cabelos agora!




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Júlia Rena

Do meu jardim

Colheu algumas palavras,
umas miúdas, outras coloridas,
e as distribiu em versos.

Nas entrelinhas, sob os versos,
semeou com cuidado
um punhado de desejos secretos
e devaneios impronunciavéis
para que um dia, despertos,
transcedessem as palavras.

Então deu de presente ao moço
- que os poemas, como as flores,
como as pessoas, têm mais vida
dedicadas a alguém.

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Júlia Rena

Insanidade

Não sei, mas ultimamente tenho achado esse dia-após-dia tão irreal, tão menos de mim a cada minuto que passa - que os momentos de loucura andam ganhando contornos dos mais reais. Parecem ser neles que meu espiríto, aquele mais verdadeiro e íntimo pedaço de mim - ou talvez o meu inteiro- se mostra mais palpável, sabe? (Menos névoa solta nesse imenso ponto de interrogação)



Júlia Rena

Mormaço

A cidade se abria tímida. Havia um circo na entrada. Até parecia festa de criança. Ele a esperava sorrindo na rodoviária, sorrindo tanto, com um abraço enorme. Ali ela deixou sua vida morna guardada na mala, e entrou de vez na vida dele. Era pequena, encaixou-se fácil.


Júlia Rena

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Desejo



É o desejo que move o mundo, que dá as passadas mais largas. o desejo é a arma da conquista, desfaz amarras, desprende raízes há muito fincadas na terra. É o que sugere a mudança, dilacera o medo, passa por cima da cautela e do pessimismo. Ele é o reflexo do sentir sem pensar, quando a sensação ofusca a razão. O desejo de comer o mundo inteiro, de colher estrelas, de desenhar no chão de areia o destino. O desejo de fechar os olhos e deixar que a alma passeie pelos lugares que o corpo não pode ir. O desejo que alguém fique bem perto ou de partir pra muito longe. É grito, é tesão, é raiva. É amor em estado bruto. O desejo não é comedído. Dentes, línguas e lábios. Morde a carne e causa arrepios na pele. É o desejo que constrói. E faz filhos. Sobe montanhas. Molha-se no mar, quando a noite cai. Crê na eternidade. E se te falta? Como Respira?


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Júlia Rena

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Intímo

Flagelo-me e fujo de mim mesma.
Ansseio o medo.
Ansseio o desejo.
 Não pertence a mim o que está em mim.
Energia ruim que me invade sem licensa.
Quando vier gritarei bem alto e te expulssarei de mim.
E se ousar encontrar-me novamente, eu terei forças.
Sugas-tes de mim um pouco de tudo.
E agora terei de reconstituir.
Começando por encontrar-me, pois fugi e não sei pra onde.
Ando meio desorientada.

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Júlia Rena

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Pra que título?

Sou do amor, do universo ao meu redor, sou um sorriso de criança, o abraço pintado, a cor, a flor, sou uma lembraça mau resolvida, uma saudade de quem se foi, uma amisade de quem ficou, um ninguem para alguém, um alguém para ninguém, um sentimento aflorado, um filhote do mundo, sou tudo e sou nada.
A porta abria e fechava, movimentos desterrados, imobilizados.
Hoje a porta abre, não se fecha.
Entro e saio. Saio e entro.
Entrei, e não tenho horas pra voltar. Voltarei quando quiser.

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Júlia Rena

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Flor Iemanjá

Flor linda flor,
não deixe que machuques mais,
Flor linda flor,
não deixes te levarem ao caís,
Flor linda flor,
eu quero sua leveza em cor,
Flor linda flor,
não se incomode mais,
Flor linda flor,
eu quero multiplicar o amor
Flor, adormeça por favor,
não sabes teu valor,
a vida está a favor,
o amor estregou-lhe a força
a luz entregou-lhe a sabedoria
a paz entregou-lhe o reencontro
agora por favor, não se entristeça não,
a música é tão bonita, que eu fiz essa canção,
você brotou do mar, e a estrela a brilhar sorriu ao te encontrar,
minha deusa Iemanjá a harmonia está por lá.