sexta-feira, 28 de maio de 2010

Retrovisor





Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário

Letras, lados, lestes
O relógio de pulso pula de uma mão para outra e na verdade...
nada muda
A criança que me pediu dez centavos é um homem de idade
no meu retrovisor
A menina debruçando favores toda suja
É mãe de filhos que não conhece
Vendeu-os por açúcar
Prendas de quermesse
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha...
Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado
É de vez em quando... do meu lado
Nunca é na frente
É o segundo mais tarde... próximo... seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu
Retrovisor nos mostra o que ficou; o que partiu
O que agora só ficou no pensamento
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi... calçadas e avenidas
Deixa explícito que se vou pra frente
Coisas ficam para trás
A gente só nunca sabe... que coisas são essas

- Fernando Anitelli -


quinta-feira, 27 de maio de 2010

Simplicidade



Como é bom colocar os pés na água da piscina olhando para o infinito que é o céu e ouvindo uma música que gosta, com o vento batendo em sua face e em seu corpo deixando-o assim arrepiado.

Como é bom mergulhar em uma piscina a noite depois de um dia quente e estressado onde a única coisa que existe é você, a água e o céu estrelado.
Como é bom ver o pôr-do-sol na areia fina da praia escutando Jack Johnson e sentindo toda aquela maresia percorrer por você.
Como é bom entrar no mar e deixar a água te levar em qualquer direção com aquela sensação de leveza e de alguma forma com uma gratidão enorme por estar ali naquele lugar, onde muitos sonham em estar.
Como é bom ver o sol nascer em cima de uma montanha... AAH... Isso realmente não tem como explicar, só sei que minha percepção de ver as coisas mudou muito depois disso, coisas que faziam uma tremenda importância, simplesmente não me importavam mais, e as coisas que pra mim não faziam sentido, passou de alguma forma a fazer parte de mim. E desde então passei a enxergar com outros olhos. Aquela vista, aquele verde das montanhas, o sol se pondo, com a lua do lado oposto desaparecendo aos poucos, e o dia clareando cada vez mais, montando assim; um conjunto de cores e mais cores; cores espetaculares. Cores que vemos muitas vezes em nosso dia-a-dia, mas que nem sempre reparamos.
Como é bom amar, ou melhor, ainda, se sentir amado.
Como é bom assistir à um filme numa tarde fria de domingo comendo um brigadeiro de panela com uma colher de madeira.
Como é bom se empanturrar de bolo de cenoura com cobertura de chocolate que só sua madrinha sabe fazer.
Como é bom ler um livro... Onde você pode se imaginar em várias situações, ou numa escola de magia e bruxaria, ou em um diário de algum personagem, ou nos campos de concentração, onde você se coloca no lugar de um judeu, e pensa duas, três ou mais vezes antes de dizer que sua vida não é boa. Ou em uma vida no século passado, onde os costumes e os deveres eram diferentes.
Como é bom sentir a música e cantar bem auto até suas irmãs aparecerem e reclamarem da sua falta de afinação.
Como é bom receber um abraço sincero.
Como é bom compreender e ser compreendido.
Como é bom ser reconhecido pelo seu esforço.
Como é bom ir embora da escola satisfeito com si mesmo por ter tirado proveito do que foi oferecido ou por ter entendido aquela matéria, em que antes você não sabia nada.
Como é bom deixar seus pais felizes, ou orgulhosos com um pequeno ato.
Como é bom encostar a cabeça no travisseiro sabendo que tudo o que deveria ser feito, foi feito. Deitar e relaxar sem se preocupar, fechar os olhos e deixar o sono bater.
As coisas mais simples da vida são as mais valiosas.
Mas muitas pessoas simplesmente se recusam a enxergá-las.
Júlia Rena