quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Livros

Não era simplesmente por amar lê-los. Sim, amava. Amava, todavia, mais forte e irresistivelmente as páginas, as letras enfileiradas, o cheiro do papel impresso, ou o aroma do papel envelhecido. Amava-os por possuir, a posse que a encantava. Era preciso que ela o possuísse. Preciso e necessário. Tê-los ao redor, encarando-a, empilhados como que aguardando pacientes pela escolha.


Júlia Rena

A toalha ainda está na cabeça

Acabei de tomar um banho. Cheirosinho e ao som de uma música insistente tocada no "repeat". Eu tenho dessas loucuras. Encano e não há tecla "next" que segure a minha obsessão por determinada músia. Ninguém em casa reclamou ainda desta mania. Não sei o que acontece.Cismo com a música, busco a letra, a essência, decoro, arrisco as cantaroladas. Fico apaixonada pelas rimas, pela sonoridade, concretizo. São espécies de músicas sazonais. Acompanham as estações da minha alma. E vai secar os cabelos agora!




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Júlia Rena

Do meu jardim

Colheu algumas palavras,
umas miúdas, outras coloridas,
e as distribiu em versos.

Nas entrelinhas, sob os versos,
semeou com cuidado
um punhado de desejos secretos
e devaneios impronunciavéis
para que um dia, despertos,
transcedessem as palavras.

Então deu de presente ao moço
- que os poemas, como as flores,
como as pessoas, têm mais vida
dedicadas a alguém.

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Júlia Rena

Insanidade

Não sei, mas ultimamente tenho achado esse dia-após-dia tão irreal, tão menos de mim a cada minuto que passa - que os momentos de loucura andam ganhando contornos dos mais reais. Parecem ser neles que meu espiríto, aquele mais verdadeiro e íntimo pedaço de mim - ou talvez o meu inteiro- se mostra mais palpável, sabe? (Menos névoa solta nesse imenso ponto de interrogação)



Júlia Rena

Mormaço

A cidade se abria tímida. Havia um circo na entrada. Até parecia festa de criança. Ele a esperava sorrindo na rodoviária, sorrindo tanto, com um abraço enorme. Ali ela deixou sua vida morna guardada na mala, e entrou de vez na vida dele. Era pequena, encaixou-se fácil.


Júlia Rena

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Desejo



É o desejo que move o mundo, que dá as passadas mais largas. o desejo é a arma da conquista, desfaz amarras, desprende raízes há muito fincadas na terra. É o que sugere a mudança, dilacera o medo, passa por cima da cautela e do pessimismo. Ele é o reflexo do sentir sem pensar, quando a sensação ofusca a razão. O desejo de comer o mundo inteiro, de colher estrelas, de desenhar no chão de areia o destino. O desejo de fechar os olhos e deixar que a alma passeie pelos lugares que o corpo não pode ir. O desejo que alguém fique bem perto ou de partir pra muito longe. É grito, é tesão, é raiva. É amor em estado bruto. O desejo não é comedído. Dentes, línguas e lábios. Morde a carne e causa arrepios na pele. É o desejo que constrói. E faz filhos. Sobe montanhas. Molha-se no mar, quando a noite cai. Crê na eternidade. E se te falta? Como Respira?


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Júlia Rena

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Intímo

Flagelo-me e fujo de mim mesma.
Ansseio o medo.
Ansseio o desejo.
 Não pertence a mim o que está em mim.
Energia ruim que me invade sem licensa.
Quando vier gritarei bem alto e te expulssarei de mim.
E se ousar encontrar-me novamente, eu terei forças.
Sugas-tes de mim um pouco de tudo.
E agora terei de reconstituir.
Começando por encontrar-me, pois fugi e não sei pra onde.
Ando meio desorientada.

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Júlia Rena