sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Só mais um gole de máguas




- Ignorante de sentimentos! Louca!

Ele ousava dizer-me ser ignorante com aquele seu vocabulário chulo e hipócrita. Me julgava insana por meu descaso de viver. Fred sempre tão frio que me dava náuseas.E o que ele saberia dizer sobre mim? Sabe apenas meu nome, a rua onde moro e um fato qualquer contado pela vizinhança. Levei à boca o resto de uísque que havia em uma garrafa envelhecida pelo o tempo guardada em um armário antigo de madeira ao canto esquerdo da grande mesa e uma sensação de poder me atingiu ao sentir o álcool rasgar minha garganta como o fogo em chamas dançantes. Mas não me importava, logo o efeito passaria e minha velha melancolia retornaria, talvez ainda mais forte. Olhei para Fred e vi seus lábios voltarem a se mexer freneticamente, mas não me preocupava em ouvir, estava ocupada de mais pegando mais uma cerveja gelada para esconder meus fracassos. Peguei e sentei novamente no banco de madeira ao lado da mesinha já cheia de latas de cerveja manchadas por meu batom vermelho vinho, com minhas digitais desesperadas para o próximo gole.
Assim seguia... Sempre com os mesmos movimentos voltados para o álcool e sempre com a mesma sede inssasiavel.
E quando pensei que Fred havia desistido de argumentar, escutei novamente sua voz tão irritante ao meus ouvidos!
- Quer parar de beber?
Minha resposta saiu com uma sonoridade estranha e embriagada, que nem eu mesma entendi.
- Sabe de uma coisa? Eu tenho é pena de você! - Disse ele gritando e enfatizando a palavra pena, como se isso fosse me atingir de alguma forma.
 Bufei com impaciência. Já não bastava todos os ressentimentos que eu sentia por mim mesma? Ainda precisava que as pessoas sentissem-as por mim? Não! Obrigada, não preciso de seus pesamos. Sei da escolha que fiz; pensei com raiva. Mas também não me importava se estava triste, com raiva, ou com ódio. Nada mais fazia sentido. A única coisa que me proporcionava sensações boas era o álcool durante esses meses. Era o meu refúgio temporário. Por isso escolhi estar ali naquele lugar até o meu coração decidir parar de pulsar, nao queria me refugiar temporariamente, porque tinha medo de cair no óbvio, tinha medo que a realidade faminta de vida me engolisse tortuosamente. Então escolhi permanecer inerte.
Uma ultima tragada em meu cigarro de palha e uma lágrima escorreu em minha face, as curvas de meu rosto fizeram com que ela escorregasse para meus lábios e ai eu senti o salgado gosto amargo da consequencia.
- Por favor Fred, não perca seu tempo! Vá buscar uma cerveja, que você estará fazendo algo útil. - Disse ríspidamente em tom sarcástico escondendo as lágrimas, tentando manter o timbre de voz menos embriagado.


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Júlia Rena

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